quarta-feira, agosto 09, 2006

Livre...

Entrara num ciclo, como que num corrupio electrizante, ritual sombrio e futurista.
Era apenas ela, a morena.
Perdida no seu metro e sessenta e picos, pisava a calçada leve como uma pena, num gingar sensual. Uma melodia eterna que suavemente percorria todos os meus pensamentos.
Era ela. O combustível do meu ser. Por ela, sentia-me vivo. E contudo, por medo, nunca tinha tido a coragem de dizer-lhe olá. Conhecia todos os seus gostos e manias.
Era eu, no talho, que lhe preparava a carne, numa contida e tímida sedução. Com o facalhão dilacerava cada milímetro de gordura e galgava triunfante, a encosta burguesa que nos dividia. Depois de aviada, eu esperava como um miúdo pelo seu doce. A oportunidade de sentir-me outra vez vivo, respirando aquele odor que despertava em mim o instinto mais perverso…
Qual animal enclausurado anos a fio, só queria sentir, nem que fosse uma única vez, aquela mulher nos meus braços. Queria ter algo meu. Mesmo que por breves e efémeros instantes. Mas que para mim, durariam para o resto da vida.
Mais tarde, acordo enfiado entre quatro paredes frias. Por instantes sinto-me alguém e apesar de meu corpo estar preso, a minha mente, essa, nunca ninguém a irá condenar. Viverá para sempre livre.

1 comentário:

Moon disse...

Delirio total...morena de gingar sensual e talhante, parte II:) ficamos à espera