segunda-feira, agosto 14, 2006

O Velho do Jardim

Aquele rosto triste e enrugado, demonstra o peso da sua idade.
A solidão essa, não é mais do que o culminar das inúmeras mudanças, mil e uma fases que passou.
Sente-se uma outra pessoa, onde a responsabilidade e todo o seu ensinamento, é proporcional aos números, números esses que adicionam histórias à sua longa vida.
Enconstado à sua bengala, como que a sua actual arma de defesa, relembra tempos passados no Ultramar, onde as feridas jamais cicatrizaram. Relembra com emoção os amigos que tombaram e já não se ergueram, relembra ainda, as negras que dançavam noite e dia, transbordando de alegria.
Por cá, continua perdido nos bancos do jardim, gastos e sujos, onde passa as suas tardes.
Podia estar num lar, questionam as pessoas que por ele passam, ao que ele convicto responde: "Enquanto me for permitido, enquanto a saúde assim o desejar, fico por aqui neste banco, já passou por mim muita vida, muita gente, muitas lembranças, aqui sinto-me bem, não me sinto sózinho, aqui sou alguém, embora a gente passe a correr, num corropio e numa azáfama própria de quem ainda não alcançou todos os seus sonhos e objectivos!"
A noite começara a cair, e o velho do Jardim, cumprindo mais um dia rotineiro, regressa ao seu refúgio, amanhã cá estará mais uma vez...

1 comentário:

Moon disse...

amanhã ali estará mais uma vez, e quem sabe tudo seja diferente....por vezes vivemos todos em bancos de jardim, como o velho, vemos a vida passar, as pessoas passarem e esperamos voltar no dia seguinte, no ciclo do tal eterno retorno....